Surtos com animais morrendo subitamente, quadros anêmicos com perda de peso e quedas abruptas na produção. Esses e outros sintomas são causados pela Tripanosomose Bovina, uma doença silenciosa que vem se espalhando sorrateiramente pelo país, causando perdas econômica imensuráveis em diversas propriedades leiteiras.
Com origem africana, o Trypanosoma é responsável por gerar sérios prejuízos à pecuária mundial. No Brasil, a espécie Trypanosoma vivax é a de maior relevância para os bovinos.
O protozoário Trypanosoma vivax infecta principalmente o sangue dos bovinos, roubando nutrientes essenciais, além disso confunde e debilita o sistema imunológico, o que favorece a ocorrência de outras doenças.
Os animais infectados pelo T. vivax poderão apresentar insuficiência cardíaca e renal, além de graves danos hepáticos e cerebrais. Em muitos casos, o quadro anêmico inicial é tão severo que não pode ser eficientemente revertido e os bovinos morrem abruptamente.
É importante ressaltar que o uso de agulhas e seringas de forma partilhada é um importante fator para a disseminação da Tripanosomose bovina dentro das propriedades. Em relação ao uso de ocitocina nos rebanhos, é sempre importante evitar a reutilização de seringas contaminadas com sangue de outras vacas, o ideal é utilizar doses prontas do medicamento, preparadas na seringa para cada animal antes da ordenha e descartar o material após a utilização.
Moscas hematófagas, como a mosca dos estábulos (Stomoxys calcitrans), a mutuca (Tabanus sp) e a mosca do chifre (Haematobia irritans), também estão envolvidas na transmissão do T. vivax. Por isso, o investimento em medidas profiláticas para o controle de vetores precisa ser adotado e seguido sistematicamente por todos na propriedade.
Além disso, o comércio de animais infectados é outra medida que estimula a rápida disseminação do T.vivax. Essa é uma estratégia adotada por alguns produtores quando encontram o problema no rebanho: vender os animais positivos ao invés de tratá-los. Como muitas vezes o animal infectado está aparentemente sadio, o comprador não se dá conta de que está introduzindo uma nova doença em seu rebanho. Após o estresse de transporte, o bovino infectado começa a apresentar novos picos parasitêmicos, o que propicia a infecção do rebanho. O indicado é manter os animais recém adquiridos isolados, para que sejam examinados e, em casos positivos, os bovinos devem ser tratados antes de serem introduzidos no rebanho.
Além disso, as alterações clínicas que o parasita causa são facilmente confundidas com outras doenças, entre elas a tristeza parasitária bovina, o que ocasiona demora do reconhecimento da enfermidade e aumenta substancialmente seus impactos sobre o rebanho infectado.
O curso clínico da doença é dividido nas fases aguda e crônica. Na fase aguda, quando o animal está recentemente infectado, há febre, perda de peso repentina, hemorragias, apatia, diarreias, abortos e repetição de cio. As perdas produtivas são expressivas e facilmente notadas pelo produtor.
Já na forma crônica, os bovinos apresentam sinais menos evidentes, desenvolvendo o quadro crônico de tripanosomose, onde ocorrem a anemia, infertilidade, perda de massa corpórea até o grau de caquexia. Essa manifestação silenciosa é responsável por uma série de perdas econômicas, pois o animal terá seu potencial produtivo diminuído, sem que o criador perceba, e se tornará uma fonte de infecção constante para o restante do rebanho.
Na fase inicial da doença, o diagnóstico é mais simplificado, pois nesse momento o animal apresenta picos de febre e o número de parasitas circulantes no sangue é alto, porém esse período tem duração média de apenas 21 dias.
Após esse período, fica cada vez mais difícil encontrar o T. vivax, uma vez que o número dos parasitas no sangue baixa drasticamente, além disso, invade locais como o líquido cefalorraquidiano (que banha o cérebro e medula espinhal), humor aquoso (porção líquida do olho) e articulações.
O diagnóstico diferencial da tripanosomose pode ser feito, na fase inicial da doença, através do teste de Woo ou com exame de sangue fresco entre lâminas. Quando há baixa parasitemia é recomendado a realização de testes indiretos que buscam a resposta do hospedeiro em contato com o parasita, para esses casos são indicados os testes sorológicos RIFI ou Elisa, sendo aconselhável que o veterinário busque associar diferentes metodologias, pois nem sempre resultados negativos em um determinado tipo de exame teste indicam que o animal está livre da doença.
O plano de controle da tripanosomose deve ser baseado no uso correto de medicamentos e no monitoramento constante do rebanho infectado. Por conta da velocidade com que o parasita se espalha, a única maneira de quebrar o ciclo da doença é o tratamento massivo do rebanho e esse é um dos principais desafios relacionados à tripanosomose bovina, pois muitos produtores tratam apenas os animais com altas parasitemias, o que é contraindicado, pois um animal infectado mas aparentemente sadio torna-se uma fonte de reinfecção do rebanho e o produtor terá perdido o investimento feito no tratamento. Por isso é imprescindível tratar todos os animais do rebanho de forma estratégica.
O Vivedium, da Ceva Saúde Animal, é o tratamento indicado para tripanosomose. O plano de tratamento sempre deverá seguir critérios técnicos definidos de acordo com a realidade de cada rebanho. Já o uso de medicamentos com dipropionato de imidocarb e o aceturato de diaminazeno não tem ação curativa sobre o T. vivax, que é resistente a esses quimioterápicos, o que consequentemente tornará o animal crônico para a doença. É importante que o veterinário avalie os animais do rebanho para saber quais estão respondendo efetivamente a medicação e quais não estão.
Outro ponto de atenção dentro do plano de controle da doença envolve o descarte de animais altamente susceptíveis, que mesmo após o tratamento (devido a sua alta sensibilidade) voltam a adoecer em poucos dias, uma vez que esses bovinos podem agir como fonte de infecção constante no rebanho.
A tripanosomose bovina tem cura, mas o investimento em medidas de biosseguridade e no monitoramento devem ser constantes, só assim será possível combater o problema de forma assertiva.
Texto adaptado escrito por Gisele Assis/ Fabiano Antonio Cadioli
Reportagem Milk Point
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